A presidenta Dilma Rousseff fez na última quarta-feira (16)
um dos mais inflamados discursos em defesa de seu mandato e contra o pedido de
impeachment. Ao participar da 3ª Conferência Nacional de Juventude, em
Brasília, evento que reúne lideranças jovens de todo o país, Dilma disse que
"jamais houve desvio" durante o exercício da Presidência, atacou
enfaticamente adversários, disse que há uma "invenção de motivos" por
parte dos que "tentam chegar ao poder de forma assaltar a eleição
direta" e afirmou que tem o "compromisso de continuar mudando o
Brasil".
Antes de seu discurso, vários participantes do evento puxavam
coros de apoio a Dilma e contra o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo
Cunha (PMDB-RJ). Durante o discurso, ela foi interrompida algumas vezes por
gritos de "Não vai ter golpe" e "Ai, a Dilma fica o Cunha
sai". Cunha aceitou, no último dia 2 de dezembro, a abertura do processo
de impeachment, cujo pedido foi feito pelos juristas Hélio Bicudo, Mighel Reale
Jr. e Janaína Conceição Paschoal.
"Neste momento, usando todos os instrumentos que o
Estado Democrático de Direito me faculta, lutarei contra a interrupção
ilegítima do meu mandato", declarou a presidenta, enumerando argumentos
que, segundo ela, comprovam que os que tentam interromper o "mandato
popular conquistado legitimamente" não encontram razões consistentes para
o impeachment.
"É a falta de razão que nós chamamos de golpe. A
Constituição brasileira prevê sim esse processo [de impeachment]. O que ela não
prevê é a invenção de motivos. Isso nao está previsto em nenhuma
Constituição." De acordo com Dilma, os argumentos sobre as mudanças no
Orçamento não são consistentes pois "jamais houve desvio nenhum".
Segundo ela, seus opositores oscilam entre "invenções e falácias porque
não há como justificar o atentado que querem cometer contra a democracia".
"Não sustenta qualquer argumento porque não houve
irregularidade. Nós pagamos o Bolsa Família sim. Pagamos o Minha Casa, Minha
Vida sim. E, ao fazê-lo, sempre respeitando as leis e os contratos que
existiam. Eu assinei decretos e mudanças na locação de recursos quando estes
recursos sobravam e, portanto, podiam ser deslocados para outras atividades
pela lei orçamentária aprovada neste país", afirmou.
Biografia
Sem citar diretamente ninguém, a presidenta elencou políticas
implementadas pelos governos do PT desde 2003, quando o ex-presidente Luiz
Inácio Lula da Silva assumiu o governo. De acordo com a presidenta, "os
que buscam atalho para o poder não querem derrubar apenas uma mulher" e
sim um projeto.
Dilma comparou a sua biografia com a de adversários
políticos. "Sabem que têm de usar de artifícios porque não conseguirão
nada atacando minha biografia, que é conhecida. Sou uma mulher que lutou. Amo
meu país e sou honesta. Além disso, não compartilho com algumas práticas da
velha política que alguns deles professam. O mais irônico é que muitos que
querem interromper meu mandato têm uma biografia que não resiste a uma rápida
pesquisa no Google", criticou.
Diante de uma plateia de cerca de 3 mil pessoas, de acordo
com a Secretaria Nacional da Juventude, a presidenta fez referências à política
de oposicionistas como o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB).
"Vamos mudar o Brasil fortalecendo a sua democracia e impedindo
retrocessos. Não mudaríamos o Brasil fechando escolas. Nós também não vamos
mudar o Brasil reprimindo movimentos pacíficos com forças policiais. Sabemos
que fechar escolas é extinguir sonhos", disse.
A presidenta criticou ainda medidas atribuídas a setores
conservadores como a redução da maioridade penal, a aprovação da proposta de
emenda à Constituição que transfere para o Legislativo o poder de demarcar
terras indígenas e a adoção de medidas contrárias à diversidade das famílias.
"Certamente não mudaremos para melhor o Brasil se
permitirmos que a nossa democracia, jovem ainda, seja golpeada agredida ou
desrespeitada. Para mudar o Brasil temos de garantir respeito ao voto da
população e respeitar o resultado das eleições. Hoje, sabemos que defender a
democracia é mudar o Brasil para melhor. Está em curso uma batalha que ditará
os rumos do nosso país por muito tempo", disse a presidenta.
Demandas
Além dos refrões em coro proferidos pela plateia, os
discursos da cerimônia de abertura da conferência também foram de apoio a Dilma.
Ela recebeu, porém, uma reivindicação do presidente do Conselho Nacional de
Juventude, Daniel Souza. "Que esse governo se coloque cada vez mais à
esquerda e com o povo", disse Daniel. Delegados da conferência também
pediram a demissão do ministro da Fazenda, Joaquim Levy.