Bem antes de a TV brasileira se voltar para a classe C,
Carlos Roberto Massa, mais conhecido como Ratinho, já era famoso por seu
programa de auditório ultra popular Durante os 15 anos em que está no ar, o
Brasil viu seu programa se modificar radicalmente. Ratinho deixou a linha
jornalística e se embrenhou pelo humor.
Tudo para se adequar a seu público fiel. Conservador,
polêmico, direto e sem meias palavras. Conheça agora um pouco mais da
sinceridade chocante do apresentador de TV mais autêntico do país.
É um feito e tanto estar há 15 anos no ar, principalmente no
SBT…
É, sim. A gente fez um trabalho de mais ou menos acompanhar a
evolução do programa. Começamos meio policialescos e fomos mudando conforme o
gosto do povo. A gente conseguiu notar que a nossa parte de entretenimento era
mais forte do que a parte sensacionalista.
Significa dizer que o programa mudou nesses anos?
Estou mais light (risos).
Por quê?
Já tem muita desgraça no ar, na internet. Se você coloca
mais, perturba a cabeça do cara, e ele para de assistir ao programa. Hoje em
dia, a opção de ver o Ratinho é fugir do problema. Até a novela tem problema! E
o cara só quer chegar em casa, sentar no sofá e descansar.
Você acha que a televisão de hoje mudou e se adequou à classe
C?
Acho que sim. O que sobrou para a televisão aberta foi a
classe C, que está consumindo um pouco mais. A classe C era menor. E as classes
A e B foram para a televisão a cabo ou para a internet. Como eu sempre fiz um
programa popular e sempre atingi esse público, nesse momento eu levo uma
vantagem.
Ao mesmo tempo em que é popular, você leva políticos ao seu
programa, conversa sobre questões sociais. Como você filtra para não levar
pessoas oportunistas ao seu programa?
Eu não filtro. Um candidato à presidência da República, por
exemplo, precisa ser conhecido. O Eduardo Campos é um político conhecido no
Nordeste, mas não é conhecido no Brasil. Então, levei ele, levei também o Aécio
Neves para que o público saiba quem é. Espero que a Dilma também vá. Enfim,
candidatos com potencial para ganhar. Candidatos que só vão para encher o saco
eu não vou levar.
Você tem vontade de voltar para a vida política?
Já fui deputado, um péssimo deputado. Não sei tomar decisão
dependendo de mais 500 pessoas. Sou meio ditador. Eu seria um bom ditador.
Além de você, quem é que sabe falar para a classe C?
Luciano Huck e Rodrigo Faro fazem um bom trabalho. Faustão e
Gugu também falam bem, mas o rei da classe C ainda é o Silvio Santos.
E a Regina Casé?
Não a conheço pessoalmente, mas é muito querida. Ela tem cara
de pobre, né? Pra falar com a classe C tem que ter cara de pobre mesmo.
Mas o Luciano Huck não tem cara de pobre!
Mas ele virou o queridinho a partir do momento em que começou
a fazer quadros que ajudam as pessoas, como o ‘Lata Velha’, por exemplo. Ele
não era queridinho.
O que você acha desses quadros assistencialistas?
Eu acho bom pra cacete, sabe por quê? Ajuda as pessoas de
verdade. O empresário e o comerciante têm a oportunidade de fazer propaganda do
produto e, ao mesmo tempo, ajudar outras pessoas. Isso não machuca ninguém, não
esfola ninguém, é uma troca.
Você pretende se tornar um Silvio Santos?
Não, eu quero ser o Ratinho mesmo. Silvio Santos é o maior
apresentador da televisão brasileira e não haverá outro como ele. Somos todos
como um quebra-galho do Silvio Santos.
Como é a sua relação com ele?
Maravilhosa. Faz um ano que não o vejo. Ele não fala com nenhum
apresentador. Só fala quando nos convida para ir ao programa dele.
Como você sabe que ele está gostando do programa?
Quando gosta muito, ele manda um bilhetinho.
Você recebeu muitos bilhetinhos?
Sim, muitos. E ele é sempre muito gentil.
É verdade que você tentou comprar a Rede TV?
Não é verdade. Não tenho nem intenção, nem dinheiro.
Por que você não se muda para São Paulo?
Moro em São Paulo de segunda a quinta. Minha família está
enraizada em Curitiba e não quer ir para lá. Minha mulher sempre vem para cá,
mas minha residência oficial é em Curitiba em função de filhos e netos.
Como foram os bastidores da entrevista com o Marcos Feliciano
(pastor eleito presidente da Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara
dos Deputados do Brasil e com opiniões polêmicas sobre gays e negros)?
Eu queria dar espaço para ele, porque estava todo mundo
metendo o pau. O cara tem que ter o direito de responder. Levei o Jean Willys
também.
E o Guilherme de Pádua (condenado pela morte da atriz Daniela
Perez)?
Nem queria falar com aquele canalha, mas ele disse que tinha
uma novidade e que precisava falar ao vivo no meu programa. Achei que era algo
inédito, uma revolução no caso. Mas ele aproveitou o programa para dizer que
tinha virado pastor. Fiquei bravo com ele, claro!
Você se arrepende? Pediu desculpas a Glória Perez?
Não vou pedir desculpas a Glória Perez, fiz meu trabalho de
jornalista, de comunicador. E não falei mal da filha dela. Tenho o direito de
entrevistar quem eu quiser. Glória Perez manda na novela dela, no meu programa
mando eu. Eu a admiro como escritora, mas não sou amigo dela, nunca fui e não
devo nada a ela.
Quem você gostaria de levar ao seu programa?
Gostaria muito de entrevistar o Fidel Castro, mas sei que
isso é quase impossível, não vou conseguir.
Você nunca tentou levar o Silvio Santos ao seu programa?
Ele não vai, não adianta nem tentar.
Qual é o seu sonho como apresentador?
Gostaria muito de manter a forma como estou hoje. Gostaria de
ter ideias brilhantes para manter o meu segundo lugar, sem dar prejuízo ao SBT.
Você já teve proposta de outras emissoras?
Não tive porque não dou nem abertura para isso. Não pretendo
sair do SBT, não quero saber de Record, de Globo ou Bandeirantes. Se o SBT não
quiser mais o meu programa, não tem problema, fico um ano esperando até eles me
convidarem de novo. Aí, eu volto.
Por que o Gugu decidiu sair do SBT?
Gugu teve uma proposta financeira muito boa, qualquer um
aceitaria, não tinha como recusar. O próprio Silvio Santos disse a ele que a
proposta era muito boa.
No seu caso, você prefere nem ouvir a proposta?
Não ouço para não ser forçado a pensar no dinheiro. Vivo bem,
sou um sujeito simples, não faço besteira, não tenho vícios, não me meto em
negócios que não entendo, então não tenho preocupações com isso. Minha
preocupação é unicamente agradar ao meu público.
O que é brega na televisão?
É tudo aquilo que não entendo. Ninguém sabe o que é brega
mesmo (risos). Você pode mostrar um quadro de um grande pintor, mas como eu não
entendo de quadro, eu vou dizer que aquilo é brega (risos).
Seu filho (o deputado Ratinho Jr.) declarou que é contra o
casamento gay. Qual é a sua posição sobre isso?
Não tenho problemas com pessoas do mesmo sexo que convivem.
Descaramento são os ativistas gays, que querem se beijar na frente dos outros
só para dizer que são gays. É uma coisa tão particular das pessoas que cada um
decide o que quer. Quem enche o saco são esses ativistas, eles se incomodam com
a preferência dos outros. Acho que isso também é uma discriminação. Homossexuais
são pessoas normais.
A que você assiste na televisão?
Gosto de programas de auditório e de telejornal.
O que você não vê? Novela, por exemplo?
Eu gosto de novela. Mas só as de época.
O que você faz nas horas vagas?
Tenho uma vida muito simples! Vou a boteco tomar cerveja com
os amigos, gosto de fazer churrasco no meio da rua com o pessoal… Sou desse
tipo aí.
Você vê muita gente na TV querendo ser popular?
Não paro para pensar nisso, não! Faço meu trabalho, minhas bobagens.
E como já passei dos 50 anos, agora quero fazer mais bobagens ainda.