terça-feira, 5 de dezembro de 2017

“Entre quatro paredes”: conheça o perfil psicológico de homens que cometem violência contra mulher

[“Entre quatro paredes”: conheça o perfil psicológico de homens que cometem violência contra mulher ]
Após relembrar casos e mostrar o alto índice de violência contra a mulher, a próxima matéria da série do BNews “Entre Quatro Paredes”, vai falar sobre o perfil dos agressores. A psiquiatra Sandra Peu, detalhou em entrevista, o que pode desencadear agressões que começam pequenas e pode até levar a companheira à morte. Além disso, a especialista também falou sobre as consequências psicológicas para as vítimas.

As causas para agressão à mulher são múltiplas, mas segundo a psiquiatra, entre os perfis, os que mais se destacam são as de homens que têm baixa tolerância à frustração por questões pessoais, de construções sociais e de pensamentos machistas, por isso, o agressor não consegue lidar com circunstâncias sociais e pessoais. Apesar disso, ao cometer o ato, “ele tem completa ciência do que está fazendo, tem uma reflexão a respeito do que está acontecendo e, por causa do poder físico, ele pode ser agressivo com relação à mulher e ferí-la psicologicamente, fisicamente e às vezes até matá-la”, explicou Sandra Peu.

A especialista ainda relatou que as lesões também podem acontecer em famílias que fazem uso de substâncias alcoólicas e entorpecentes. “Não simplesmente apenas pelo homem, mas a maior parte das drogas que são inibidoras e estimulantes ou psicogênicas podem diminuir a possibilidade da pessoa ter uma reflexão e a impulsividade pode levar muito facilmente a agressão e então essa pessoa pode acabar ferindo sua companheira ou companheiro”.

Mas, a morte pode ser evitada. Em geral, os agressores não matam suas companheiras imediatamente. “Eles começam com pequenas agressões e ofensas e partem para agressões físicas indiretas como empurrões, depois passam para as agressões físicas violentas, então é crescente. Dessa forma, uma mulher que a partir do momento que começa a ser violentada psicologicamente, com palavras e posturas ofensivas, consegue se livrar de um relacionamento. Ela deve entender que deve se proteger desse indivíduo que a está violentando de alguma maneira. Se ela sair dessa condição e fizer denúncias, a chance dela se manter em circunstância de agressão é mínima”, alertou Peu.

 “MATEI POR AMOR”

O amor já se tornou a justificativa e argumentação da maioria dos agressores. Tal discurso é recorrente nos noticiários quando são questionados sobre a motivação do crime. A psiquiatra explica que existem pessoas que formam delírios de amor, mas em geral, não se concretiza em "morte por amor" e indica que quem tem essas características deve ser tratado com medicamentos.

“Por mais apaixonado que alguém esteja não é possível. A menos que exista uma doença mental grave envolvida. Um indivíduo que coloca o outro no lugar de objeto, em circunstâncias de posse e de controle, na hora em que isso sai do seu equilíbrio, o homem se frustra e mata sua companheira. Não é justificativa, pois geralmente esses homens têm capacidade de fazer o ajuizamento crítico sobre o que fizeram e sabem o que estão fazendo”, avaliou Peu.

CONSEQUÊNCIAS PSICOLÓGICAS PARA AS VÍTIMAS – Em toda ação, existe a reação. Já é fato que as agressões não são pouco usuais, mas são várias as consequências que isso pode causar para quem sofre esses ataques. Ainda de acordo com a psiquiatra Sandra Peu, situações de stress contínuo para quem já tem uma predisposição genética, podendo levar à depressão, e circunstâncias de abuso sexual ou doméstico que acarreta em transtornos graves, que levam a stress pós-traumático, são as consequências mais comuns.

“Dificuldades de se reorganizar socialmente, de retomar sua capacidade, a diminuição da autoestima dessa mulher pode ser tamanha pela estimulação desse parceiro abusivo. É muito difícil. Às vezes até precisa de tratamento psiquiátrico para lidar com isso, para retomar a sua vida familiar, reconstituir um relacionamento ou retomar a vida sexual. Então, precisa de suporte psiquiátrico e ate mesmo psicoterapêutico”, alertou a especialista. 

ÍNDICES ALTOS

De janeiro a setembro de 2017, a Bahia registrou mais de 37 mil casos de violência contra a mulher. Já em todo o ano de 2016 foram contabilizados 58.744 ocorrências do tipo. Os dados são da Secretaria de Segurança Pública da Bahia (SSP-BA).


Do número total de ocorrências realizadas até setembro deste ano, foram computados 38 casos de feminicídios, e 206 casos de homicídios dolosos, quando há intenção de matar. No mesmo período, também foram contabilizados 304 tentativas de homicídios, 407 estupros, 11.346 lesões corporais e 24.359 ameaças. Desses números, 8.205 casos foram registrados na capital baiana.