Tem apenas 11 anos, mas esteve prestes a subir ao altar. Nada
al-Ahdal, do Iémen, publicou um vídeo no YouTube a 8 de Julho, pouco tempo
depois de ter sido salva pelo tio de um casamento arranjado. “Será que eles não
têm compaixão?”, pergunta. “Eu prefiro morrer [a casar].” “Eu não teria uma
vida, educação.” Quando um iemenita expatriado na Arábia Saudita perguntou aos
pais se poderia casar com a menina, eles responderam prontamente que sim.
Acordaram uma quantia, e marcaram o casamento. Nada não tinha
sequer 10 anos, e se não fosse o tio estaria neste momento casada. Com raiva e
determinação, a criança falou para as câmaras sobre os casamentos arranjados
das crianças no Iémen.
Em entrevista ao ‘National Yemen’, Nada acusa a mãe de querer obrigar a casar para ganhar dinheiro. “Eu não sou um produto à venda”,
diz. “Eu sou um ser humano, e preferia morrer a casar com esta idade.” O tio de
Nada, Abdel Salam al-Ahdal, ficou horrorizado quando soube que a sobrinha
estava prestes a casar. “Quando eu soube do noivo entrei em pânico”, contou ao
‘NOW’. “A Nada não tinha sequer 11 anos; ela tinha exatamente 10 anos e 3
meses. Eu não podia permitir que ela se casasse e visse o seu futuro destruído,
especialmente quando a sua tia foi forçada a casar aos 13 anos e imolou-se pelo
fogo.”
“Fiz tudo aquilo que estava ao meu alcance para acabar com o
casamento. Chamei o noivo e disse-lhe que a Nada não era boa para ele. Que ela
não usava a burca. Ele perguntou-me se as coisas iriam continuar assim, e eu
disse ‘sim’.” “Eu também lhe disse que ela gostava de cantar, e perguntei-lhe
se ele ia continuar a querer casar com ela.” Os pais de Nada não ficaram
satisfeitos com o fim do noivado, e exigiram que a rapariga regressasse a casa
com eles. Porém, a jovem fugiu pouco tempo depois. Tinha medo que a obrigassem
a casar de novo.
Quando o tio a encontrou, informou as autoridades e trouxe
Nada para sua casa. Foi neste período que a criança publicou o vídeo no
YouTube. “A culpa não é dos miúdos. Eu não sou a única. Pode acontecer com
qualquer criança”, diz. “Alguns miúdos decidiram atirar-se ao mar. Eles estão
mortos agora. Eles mataram os nossos sonhos, eles mataram tudo aquilo que
existe dentro de nós. Não nos resta nada.” E remata: “Isto é criminoso,
simplesmente criminoso.”A prática de casar crianças é bastante comum no Iémen,
principalmente a troco de quantias monetárias. Vários grupos internacionais de
defesa dos direitos humanos já estão conscientes desta situação, e a trabalhar
no sentido de acabar com a prática. De acordo com um relatório do Social
Affairs Ministry de 2010, mais de um quarto das mulheres no Iémen casam antes
dos 15 anos. A tradição também contribui para os casamentos com miúdos:
acredita-se que uma noiva jovem tem maior probabilidade de se tornar numa
esposa mais obediente, ter mais filhos e manter-se afastada de tentações.Portal Adesgraça