O que se viu neste sábado (22) em frente ao Shopping
Iguatemi, em Salvador, foi a prova inconteste de despreparo de boa parte dos
prepostos da Polícia Militar da Bahia escalados para “conter” as manifestações
contra uma série de deficiências promovidas pelo próprio Estado. Ao contrário
do ocorrido mais cedo, no Vale dos Barris, onde vândalos alheios aos protestos
por melhorias no país atacaram os PMs com pedras, garrafas, objetos, bombas e
morteiros, na Avenida Antonio Carlos Magalhães, servidores acometeram pessoas
de bem, aleatoriamente, com balas de borracha, bombas de “efeito moral” e spray
de pimenta.
O repórter fotográfico Almiro Lopes que tentava clicar
imagens de um quebra-quebra em frente ao Bradesco Prime foi atacado
gratuitamente por dois policiais, no canteiro central da via, quando voltava do
ponto. Flagrei a situação e fui ao chefe do grupo, identificado no uniforme
como capitão Themístocles, e tentei apurar o motivo da truculência. “Você me
viu agredir?”, indagou, com um sorriso irônico na face. De pronto, respondi
“não” e complementei: “mas ele agrediu”, apontando para um soldado não
identificado que estava um passo atrás do pelotão. Os demais praças vieram em
minha direção com rispidez e o agressor, com o dedo em riste sob o meu queixo,
disparou: “Você não tem o direito de fazer interrogatório. Quem manda aqui é a
PM, p***”. Diante da inflamação do colega, outro soldado disse que eu tinha
tirado foto – o que de fato aconteceu – e me mandou entregar o celular. Eu
neguei, mostrei o crachá de imprensa e afirmei que ele não tinha esse direito.
Soldado à frente atacou com spray e PM ao fundo ameaçou
Um cabo me puxou pelo pescoço, que ficou inchado e
avermelhado, apertou o meu ombro e tascou o frasco de spray de pimenta em
direção aos meus olhos, ao elogio de “seu v***, filho da p***”. Sorte que
consegui virar o rosto. Azar de Francis Juliano, repórter da minha equipe que
estava mais adiante, mas se aproximou após a confusão gritando “que p*** é
essa?”. O mesmo soldado que agrediu o fotógrafo e me ameaçou partiu para cima
dele aos berros de “o que é que você quer, filho da p***? Vá tomar no seu c*”.
Bastou Francis responder “vá você”, para imediatamente o até então espectador
pacífico capitão Themístocles determinar: “Prende ele. Desce no camburão”.
Francis foi pego à força, teve o braço torcido por dois policiais, que lhe
puseram algemas, e o acompanharam com armas em punho no meio da multidão. O
jornalista foi levado à 16ª Delegacia da Pituba, por tentar proteger um colega
de trabalho, acusado de “desacato”. O protesto no Iguatemi, após a ocorrência,
coincidentemente ou não dispersou.
Tanto quanto o sorriso do oficial, ironicamente, três artigos
da Lei 7.990/2001, que regulamenta a PM-BA, determinam ao policial “ser
discreto em suas atitudes e maneiras e polido em sua linguagem falada e escrita
(Art. 39, III)”; “comportar-se educadamente em todas as situações (Art. 39,
XII)” e “o compromisso de atender com presteza ao público em geral, prestando
com solicitude as informações requeridas, ressalvadas as protegidas por sigilo
(Art. 41 VII)”.