Os 31 anos de prisão impostos ao motoboy Sandro Dota pela
morte e estupro da universitária Bianca Consoli, de 19 anos, em setembro de
2011, não agradaram integralmente à mãe da vítima, Marta Ribeiro Consoli. Após
o julgamento, que terminou na terça-feira (17), ela reconheceu que a justiça
foi feita pelo crime, mas o réu mereceria uma pena muito maior.
— Bom, a pena pela barbaridade que ele cometeu contra minha
filha Bianca deveria ser muito mais alta. Mas no Brasil infelizmente as leis
são muito fracas, falhas, então eu tenho certeza que os 31 anos que a juíza deu
ela ponderou, ela viu tudo o que ele fez com a minha filha, as maldades que ele
fez, o estupro, o assassinato. Ele não deu chance da minha filha se defender,
entrou na minha casa, calculou. Ele é uma pessoa fria e calculista.
A juíza Fernanda Afonso de Almeida, da 4ª Vara do Júri, leu a
sentença no plenário do Fórum Criminal da Barra Funda, na zona oeste de São
Paulo, e nela descreveu Sandro Dota como alguém “dissimulado” e “manipulador”.
A magistrada disse ainda que o réu foi “maquiavélico” ao cometer os crimes e
que aproveitou para transformar o caso em um “circo” durante suas entrevistas
concedidas para a televisão.
Marta Consoli corroborou a opinião da juíza, chamando Dota de
uma pessoa má, fria e calculista. O tamanho da pena imposta ao motoboy só não
irritou mais a mãe de Bianca do que a alegação de Aryldo de Paula, advogado de
defesa, durante as suas explanações. O defensor disse por mais de uma vez,
dentro do plenário, que condenar o réu pelo estupro, algo que ele negou durante
todo o julgamento, seria como condená-lo à pena de morte.
— Só que ele não foi condenado à pena de morte. Quem foi
condenada foi a Bianca, porque ele, o Sandro, deu a pena de morte pra minha
filha. Ele é que determinou quando a minha filha tinha que morrer. Ali ele não
estava sendo condenado a isso, ali estava sendo condenado por aquilo que ele
fez, porque daqui a dez, 12 anos ele está na rua. A minha filha nunca mais vai
voltar para os meus braços.
Além de garantir que seguirá na luta pela justiça para outras
famílias, Marta aproveitou o fim do julgamento para agradecer a todos que
demonstraram apoio à ela e aos familiares de Bianca ao longo dos últimos dois
anos.
— Quero agradecer, do fundo do meu coração, a vocês a
imprensa, que nesses dois anos muitos até ficaram meus amigos por essa luta
junto comigo. Agradeço a vocês, ao meu advogado que foi uma pessoa maravilhosa.
Agradeço ao promotor Nelson, que foi uma excelente pessoa. Agradeço a todas as
pessoas que oraram por mim, que diziam isso quando me encontravam nas ruas, me
dizendo que a justiça seria feita. Obrigado por ficarem dois anos comigo até
chegar nesse momento em que foi feita justiça pela minha filha.
Julgamento correu mais rápido do que o previsto
Previsto para durar até cinco dias, o julgamento ocupou menos
da metade do período. A acusação, feita pelo promotor Nelson dos Santos Pereira
Júnior e o seu assistente, Cristiano Medina, pedia desde o início a condenação
por homicídio triplamente qualificado (meio cruel, motivo fútil e recurso que
dificultou a defesa da vítima) e estupro. Já a defesa, formada por Aryldo de
Paula e outros cinco advogados, pedia a condenação apenas pelo assassinato, mas
com atenuantes.
Durante a tréplica, a defesa de Dota se baseou em questionar
o depoimento da perita do caso, que disse que não podia afirmar com precisão se
as lesões na região perianal da vítima eram decorrentes de um estupro. O
advogado Mauro Nacif sugeriu que os ferimentos podem ter sido causados durante
a queda. A defesa chegou a mostrar aos jurados fotos das lesões.
“Eu matei”: Sandro Dota e outros réus confessam a autoria de
crimes bárbaros em São Paulo
Os advogados de Dota ainda ressaltaram que não pedem a
absolvição dele, que confessou o crime dias depois de dispensar o defensor
anterior, durante o primeiro julgamento, em julho. Eles querem apenas que o
acusado seja inocentado do crime de estupro.
O promotor Nelson dos Santos Pereira Júnior argumentou que
houve estupro e que a vítima se preparava para ir à academia quando foi
atacada. Segundo ele, a jovem não teria condições de malhar se tivesse com
aqueles ferimentos.
Primeiro dia de júri
Das oito testemunhas arroladas pela acusação, duas foram
dispensadas. Já a defesa dispensou seis das nove previstas. A primeira
testemunha a ser ouvida foi Marta Ribeiro, mãe de Bianca. Em seu depoimento ela
respondeu apenas questões do promotor, os advogados de defesa abriram mão das
perguntas.
Marta contou sobre a rotina de sua filha e sobre Sandro ter
uma cópia da chave de sua residência. Daiana Consoli, irmã da vítima e
ex-mulher de Sandro, foi a segunda a depor. Ela falou sobre o comportamento de
Sandro e disse que ele era possessivo e ciumento.
O terceiro e último a depor, antes do intervalo, foi Bruno
Barranco, namorado de Bianca na época dos fatos. Bruno disse que começou a
desconfiar de Sandro Dota alguns dias depois do crime e disse que nada que o
réu tenha falado o deixou mais aliviado.
Maurício Vestyik, policial responsável pela investigação do
caso, e Gisele Capello, delegada, foram ouvidos e disseram ter certeza de que
Sandro Dota era responsável pela morte e também pelo estupro de Bianca.
As peritas Angélica de Almeida, Ana Cláudia Pacheco e Alaide
do Nascimento Mariano depuseram de maneira breve, reafirmando as informações
que prestaram no julgamento anterior.
Em seu interrogatório, o Sandro Dota afirmou que o medo de
morrer e de perder a mulher foram os motivos que o levaram a assassinar a
universitária. O réu no caso voltou a negar que tenha estuprado a jovem.