Um senador do partido da Liga do Norte comparou Cecile
Kyenge, primeira-ministra negra da história da Itália, a um orangotango, o que
provocou a reação do chefe de governo, Enrico Letta.
Sábado, durante uma reunião de seu partido em Treviglio, no
norte do país, o senador Roberto Calderoli, conhecido por suas declarações
polêmicas, declarou que a ministra de origem congolesa Cecile Kyenge "faz
bem de ser ministra, mas deveria o ser em seu país". "Eu me consolo
quando navego na internet e vejo as fotos do governo. Adoro animais, mas quando
vejo imagens de Kyenge, não posso deixar de pensar em suas semelhanças com um
orangotango, mesmo que eu não diga que ela seja um deles."
Essas declarações imediatamente repercutiram nas redes
sociais, provocando uma onda de indignação. Neste domingo, em um comunicado
oficial, Enrico Letta reagiu pessoalmente: "as palavras que apareceram
hoje na imprensa e atribuídas ao senador Calderoli sobre Cecile Kyenge são
inaceitáveis e ultrapassam qualquer limite".
Em um comunicado, ele também expressou "sua plena
solidariedade e apoio à Cecile". O presidente do Senado, Pietro Grasso,
exigiu desculpas formais de Calderoli.
Cecile declarou neste domingo à agência de notícias Ansa que
"não toma pessoalmente as palavras de Calderoli, mas elas me entristecem
por causa da imagem que dão à Itália". "Eu acredito que todas as
forças políticas devem considerar o uso que fazem da comunicação."
Em 2006, Calderoli precisou renunciar sob o governo
Berlusconi após se exibir com um camiseta anti-islã sobre Maomé. Desde sua
nomeação, Kyenge precisou enfrentar várias manifestações hostis por parte da
Liga do Norte, um partido aliado ao Povo da Liberdade de Silvio Berlusconi.
Desde sua posse, no final de abril, a ministra foi alvo de
agressões verbais e até ameças de morte postadas em sites racistas e em sua
página oficial no Facebook.