Quando criança, João Batista Rocha gostava muito de ir à
escola, uma pequena sala de pau a pique com uma mesa desconfortável e sem lousa
em "Cai na Lama", Barão de Grajaú, às margens do rio Parnaíba, no
Estado do Maranhão. Desde pequeno, ajudava a família na roça e quase não tinha
tempo de estudar, mas se esforçava.
— Uma vez eu fui até a cidade comprar ferramenta de
trabalhar. Eu vi um papel daqueles rolos grandes, sabe? Vi que dava para
escrever nele. Esperei perder a vergonha para falar com o homem e pedi para
comprar. Ele falou: "Isso aqui? Isso aqui você não precisa comprar. Eu te
dou". E então eu escrevi uma letra bem pequena só quando precisava, só
quando era para treinar mesmo, para não acabar o papel.
O professor que dava aula para João Batista até os dez anos
se mudou de Barão.
— Caneta não dá dinheiro, meu pai falava. Eu estava ficando
grande e tinha que trabalhar puxado.
Com os anos, as mãos de João ficavam cada vez menos
familiarizadas com a caneta de tão calejada.
— Trabalhei muito todo dia por anos. E depois me juntei cedo
(com a mulher). Tive a primeira filha, a segunda, os meninos. Foram dez filhos,
e não voltei mais para a escola.
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Mas não foram os dez filhos e a família que impediram João de
fazer sua matrícula. Segundo João, foram as adversidades da vida.
— Depois eu passei muitos anos procurando minha filha que
fugiu para casar. Luzinete Holanda Rocha, 24 de janeiro de 1993. Não dá para
esquecer não.
Depois de perder a filha, João Batista se separou da mulher,
com quem viveu de 1954 a 1994, e decidiu se mudar para Diadema, na Grande São
Paulo. Naquele ano, o Estado o reconheceu como inválido, assim que João
comprovou que seu reumatismo havia se tornado uma artrose.
— Quando eu vi que não podia mais trabalhar é que eu resolvi
seguir o sonho de criança. Parece que só porque eu não podia é que eu queria.
Na verdade, eu já estudava, mas sem orientação.
A vida então deu finalmente a chance de estudar a João
Batista. Aposentado e com acesso a uma escola na região, ele sentou-se pela
primeira vez a uma verdadeira carteira escolar em 2010.
João diz que da salinha "Cai na Lama" para o
sobrado onde mora atualmente, muita coisa mudou na vida de estudante.
— Eu uso o computador todo o dia. Eu olho tudo nele. Faço os
trabalhos de escola com ele. E como tem livro, né? Gosto muito de comprar, mas
ganho livros também.
Aos 81 anos, matriculado no segundo ano do ensino médio, João
Batista se forma em dezembro do ano que vem, e espera, com os estudos,
"saber mais da vida".