O suposto esquema de extorsão a traficantes de Campinas, no
interior de São Paulo, pode ter rendido mais de 2 milhões de reais em menos de
um ano a agentes do Departamento Estadual de Combate ao Narcotráfico (Denarc).
É o que revela o relatório entregue à Justiça, que levou para a cadeia na última
semana nove policiais civis quatro continuam foragidos. Eles teriam ligação com
traficantes da facção Primeiro Comando da Capital (PCC).
Nas mais de 400 páginas do documento, elaborado pelo Grupo de
Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), constam sequestros,
tortura, ameaças de morte, invasões de domicílio e roubos tanto de dinheiro
quanto de drogas supostamente cometidos pelos policiais para extorquir 300
mil reais de traficantes de Campinas. O principal alvo dos agentes seria
Agnaldo Aparecido da Silva Simão, o Codorna, considerado uma dos comandantes do
tráfico na Favela São Fernando.
A quantia extorquida, no entanto, pode ser ainda maior,
segundo apontam gravações de conversas realizadas pelo sequestrador Wanderson
Nilton de Paula Lima, o Andinho, na prisão. Sem saber que estava com o celular
grampeado , ele relata a um comparsa o prejuízo dos achaques a Codorna.
"Mão de Morsa (apelido usado por Andinho) diz que do final do ano para cá
Mano Mais Novo (como ele chama o Codorna) já perdeu mais de 2 milhões de reais
para os caras", registra a transcrição de um diálogo do dia 23 de abril.
Codorna acabou sequestrado, em 11 de abril, em casa. Segundo
a investigação, os policiais levaram como reféns sua mulher, uma filha de cinco
anos, a cunhada e uma sobrinha de quatro anos. O traficante e seus familiares
foram soltos um dia depois ao pagarem um resgate de 200 mil reais. "Os
policiais exigiram que eu arrumasse 500 mil reais para libertar todo
mundo", afirmou Codorna.