Trata-se de um método que utiliza substitutos alimentares – pó para
ser diluído em água – à base de proteínas de alto valor biológico, seguido de
uma etapa de reeducação alimentar.
"Ao contrário da dieta da proteína tradicional,
hiperproteica, esta não sobrecarrega fígado e rins porque oferece proteínas de
acordo com a necessidade diária do paciente", explica Isabela Bussade
(RJ), mestre em endocrinologia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro
(UFRJ) e responsável científica pela PronoKal, multinacional europeia que
propõe o sistema.
A técnica só pode ser prescrita por médicos – treinados pela
empresa – e compreende três fases. Na primeira, são empregados sachês
alimentares à base de proteína, combinados com suplementação vitamínica e
consumo de verduras com baixo teor de carboidrato. Neste período, o organismo
entra em estado de cetose, utilizando depósitos de gordura como fonte
energética e promovendo saciedade.
Na segunda fase, os alimentos são reincorporados ao cardápio
progressivamente, ainda combinados com os substitutos (pós). Na terceira, a de
manutenção, que pode se estender por até dois anos, o paciente se submete a um
cardápio adequado às suas novas necessidades. "Pela saciedade gerada pelas
proteínas, não é preciso usar medicações para controlar a fome", diz
Bussade, acrescentando que a metodologia foi desenvolvida na Espanha há oito
anos.
Para cada caso, um menu especial
Como a dieta tem que ser personalizada, a consulta médica
deve, obrigatoriamente, incluir exames laboratoriais que considerem as funções
hepática e renal, história clínica de obesidade e rastreamento para transtornos
alimentares – pois estes últimos são uma contraindicação ao tratamento.
"Se a pessoa for liberada para fazer a dieta, é realizada uma prescrição
que deve ser reavaliada a cada 15 dias. A escolha dos sabores que entrarão na
composição do cardápio conta com o auxílio de nutricionistas para
individualizar ao máximo o processo", diz a endocrinologista.
Em relação ao custo do tratamento, varia muito em função de
quantos quilos o paciente tem que perder e de quantos envelopes consumirá por
dia. Uma caixa contém sete envelopes (ou seja, sete refeições) e custa R$ 65.
Se a pessoa iniciar o método com cinco por dia, terá um custo diário de R$ 47.
"Na primeira fase, ela irá ingerir somente os produtos da marca e vegetais
no almoço e jantar. Ou seja, não haverá gastos com refeições na rua e muitas
vezes o custo diário é menor do que se costumava despender.
É importante dizer também que, à medida que o paciente vai
perdendo peso e avançando de fase, o número de envelopes diminui e os alimentos
convencionais retornam, ficando menor o investimento", comenta Fernanda
Caldeira, nutricionista-chefe da Pronokal, acrescentando que cada paciente tem
que eleger o médico de sua escolha (que tenha feito o curso de formação PronoKal)
e pagar suas consultas à parte.
Os que mais irão se beneficiar são os que apresentam Índice
de Massa Corporal (IMC) compatível com sobrepeso ou obesidade. "Muitas
pessoas vivem fazendo regime, sem sucesso; outras não podem utilizar
medicamentos. É aí que a metodologia entra para mudar tais trajetórias",
destaca Isabela Bussade.
O menu à base de proteínas funciona porque, quando se reduz o
consumo de carboidratos, cai a produção de insulina e sobe a de um hormônio
chamado glucagon. Tais ações favorecem a maior quebra de gordura (lipólise) e
ativação da cetose, levando o indivíduo a sentir menos fome. "Quem sofre
com hipertensão arterial e alterações no perfil lipídico, com problemas de
colesterol, triglicerídeos e glicose, apresenta uma melhora significativa em
seus quadros clínicos. Além da perda de peso, a saúde é beneficiada como um
todo."
Em vez de refeição, sachês saborosos
Os substitutos alimentares do método PronoKal vêm na forma de
pó que, ao ser diluído em água, se transforma em alimentos de consumo habitual,
como suco de laranja, panqueca, omelete, brownie, mousse de chocolate. Apesar
de terem aspecto e paladar semelhante a itens à base de carboidratos e
gorduras, todos os envelopes têm praticamente a mesma composição, elaborada em
texturas e consistências diferentes (para o cardápio não ficar monótono): 15 g
de proteínas desidratadas de alto valor biológico e um conteúdo de carboidratos
muito baixo. "Cada sachê deve substituir uma refeição.
De acordo com a fase de tratamento, duas a seis refeições
podem ser substituídas", esclarece Fernanda Caldeira. São seis categorias
de preparados: sopas e cremes; omeletes e salgados; confeitaria (minibolos,
panqueca e arroz doce); sobremesas; chocolates, cafés e chás; e bebidas de
frutas. "Para entender bem, tomemos o exemplo do omelete: o paciente vai
diluir o conteúdo desse envelope em 100 ml de água e depois colocar a mistura
na geladeira, somente para gelar e engrossar. Depois disso, está pronto para o
consumo."
Todos os produtos têm o preparo inicial igual: misturar o
conteúdo do envelope em determinada quantidade de água (informada na
embalagem). Depois, a finalização será no microondas, na geladeira, no forno
convencional ou na frigideira, novamente conforme indicação da embalagem. No
caso de alguns produtos, como as bebidas com frutas, basta misturar água e
acrescentar gelo. A água para preparo deve ser sempre em temperatura ambiente.
"Em relação às sobremesas, deve-se diluir em água e colocar para gelar.
Chocolates e cafés, diluir em água e aquecer no microondas – ou colocar na
geladeira, caso a pessoa prefira consumir gelado", especifica a
nutricionista Fernanda Caldeira.
Importante: na primeira fase, em que ocorre a dieta
cetogênica, é esperado que o paciente perca 80% do peso total programado; na
fase 2, de reeducação alimentar, os 20% restantes. "A dieta proteinada é
normoproteica e, por isso, é oferecido ao indivíduo de 0,8 mg a 1,2 mg de
proteína por kg de peso ideal ao dia. Em média, ele consome diariamente 75 g de
proteína. Nas dietas hiperproteicas, a oferta de calorias é muito maior, o que
pode gerar sobrecarga metabólica", observa a endocrinologista.
No restaurante, só a salada
Quem adere ao programa não fica proibido de comer fora. Como
o consumo de verduras e legumes acontece desde o início, é possível ir a
restaurantes e pedir saladas, por exemplo. "A metodologia é prática e
fácil de ser adaptada ao cotidiano da maioria das pessoas. Acompanho executivos
e donas de casa aderindo a ela com a mesma eficácia", reflete Luciana
Spina, doutora em Endocrinologia pela UFRJ e membro da Sociedade Brasileira de
Endocrinologia e Metabologia (Sbem).
Ela recomenda a metodologia para qualquer indivíduo que
esteja pelo menos 8 a 10 kg acima do seu peso ideal, principalmente os que já
fizeram muitos regimes, estejam dispostos a mudar seus hábitos alimentares e,
acima de tudo, "tenham compromisso com o acompanhamento médico", com
motivação e disciplina. "Não vale para quem quer eliminar poucos quilos ou
não tem vontade de alterar o cardápio", diz a médica, lembrando de casos
de hipertensos que suspenderam a medicação depois da perda significativa de
peso.
Para Spina, a velocidade com que se emagrece gera incentivo e
maior adesão ao tratamento. "A pessoa não passa fome, fica saciada e sente
bem-estar, o que facilita a manutenção em longo prazo." O tratamento, que
já contemplou mais de 300 mil indivíduos no mundo, pode melhorar condições
patológicas associadas à obesidade, como diabetes, hipertensão arterial,
hipercolesterolemia, resistência à insulina e apneia do sono.
Críticas
Segundo um estudo publicado no ano passado por pesquisadores
espanhóis e publicado no periódico Formación Médica Continuada en Atención
Primaria, dietas proteinadas como a do Dr. Dukan e a própria PronoKal (bastante
popular naquele país) trazem riscos à saúde. Em primeiro lugar, porque levam as
pessoas a acreditar que o alto consumo de proteínas ajuda a emagrecer (e não o
baixo valor calórico). Isso seria perigoso porque a ingestão proteica excessiva
pode sobrecarregar os rins.
O trabalho, de autoria de Julio Basulto Marseta, Maria Manera
Bassolsa, Eduard Baladia Rodrígueza, da Associação Espanhola de Nutricionistas,
também alerta para os riscos de se perder peso rapidamente, entre eles o de se
recuperá-lo em pouco tempo (o chamado efeito-sanfona). Por último, lembra que
não há estudos científicos que garantam a eficácia e segurança dessas dietas a
longo prazo, em especial para a saúde.