sábado, 22 de junho de 2013

Mulher de fases


Passamos da fase delicada de adaptação, assim, já me sinto um pouco mais à vontade com eles e eles comigo. Fizemos ótimos progressos e tudo indica que estamos no caminho certo. Aquela desconfiança mútua dos primeiros dias já passou. Ninguém aqui quer tomar chá vermelho no meu crânio, pelo contrário, eles se sentem orgulhosamente honrados por eu estar querendo aprender com eles. Querem que eu goste do curso e seja aprovada. Estão conseguindo.

A turma é toda composta por jovens profissionais que têm os mesmos objetivos que eu: novinhos oficiais (todos Tenentes) e novinhos praças (todos Soldados). Boa parte dos instrutores são Sargentos e um ou dois são Capitães. A maioria das alunas são Tenentes. Não sei se é espontâneo ou se lhes deram essa ordem, mas são elas que cuidam de mim e não me deixam fazer besteira. São muito aplicadas e realmente estão dispostas a estudar. Almoçamos juntas,  saímos no final de semana, olhamos revistas de noivas  enquanto tomávamos café e comíamos pães de queijo que nós mesmas fizemos na casa de uma delas. Temos uma noiva - muito linda - no grupo!

Somos mulheres que têm algumas afinidades entre si, mas de vez em quando nossas diferenças profissionais afloram e o clima fica um pouco tenso.  Uma delas carrega o peso da medalha de primeira colocada geral em seu curso de formação. Imagine o que é suportar o ódio de um pelotão de jovens oficiais tendo que engolir uma mulherzinha como a melhor e mais competente aluna do curso deles. Ela é do tipo que não pode errar, logo quer exigir o mesmo dos outros. Tanto que quase caí pra trás quando ela deu uma retumbante patada num colega soldado-aluno que na minha visão só estava querendo ajudar, coitadinho... Pela minha cara de "focaisthis???" uma delas achou por bem tentar me explicar, porém não me olhou nos olhos enquanto falava. Ouvi, claro, mas... não deu pra camuflar o mal-estar de ver o colega saindo todo desconcertado.


Não posso deixar de fazer as comparações que pretendia evitar desde o início. Na minha polícia, chefe é chefe, como em qualquer lugar do mundo, mas curso é curso e nos três cursos que já fiz internamente (quatro com o Curso de Formação) só tinham duas classes de pessoas: ou você é aluno ou você é professor. Já aqui, a patente do aluno tem que ser respeitada até no trato informal entre os mesmos!  Esse foi o problema: o fato de ele tê-la tratado como colega e não como alguém superior na hierarquia militar. Não sei o que dizer. Esperar a próxima fase.