segunda-feira, 24 de junho de 2013

Cannabis provoca inflamação em área do cérebro que cuida dos movimentos


Consumir cannabis queima os neurônios? Parcialmente verdade. Estudos comprovam que fumar a droga antes dos 15 anos de idade diminui o QI, mas essas mesmas pesquisas mostram que, após os 20 anos, a cannabis não traz problemas cognitivos.

"Essa diferença tem a ver com a maturação do cérebro, porque na adolescência ele ainda está a terminar de se formar. Entre os 15 e os 20 anos é uma faixa nebulosa, onde não foi possível comprovar qual o impacto. Ainda assim, consideramos uma idade de risco", explica Thiago Marques Fidalgo, psiquiatra do Hospital A. C. Camargo.

Um grupo de cientistas da Universidade Pompeu Fabra, de Barcelona, em Espanha, afirmou ter descoberto o mecanismo cerebral que altera a coordenação motora pelo consumo crônico de cannabis.

O estudo, que foi publicado nesta segunda-feira na revista Journal of Clinical Investigation, demonstra que a exposição crônica à principal substância psicoactiva da cannabis, o delta9-tetrahidrocannabinol (THC), ocasiona uma inflamação no cerebelo, a área do cérebro que coordena os movimentos e é responsável pela aprendizagem motora.

Segundo explicou um dos pesquisadores do projeto, Andrés Ozaita, até agora sabe-se que o consumo crônico de cannabis causa uma diminuição dos receptores da droga que estão presentes em quase todas as partes do cérebro e realizam funções diferentes.

Com esta nova pesquisa foi possível demonstrar que esta diminuição dos receptores provoca um "ambiente neuroinflamatório" no cerebelo, já que ativa a micróglia, um conjunto de células consideradas o sistema imunológico do cérebro.

A micróglia, que normalmente está latente, é ativada perante o THC do mesmo modo quando há um dano cerebral, produzindo uma inflamação que impede o correto funcionamento do cerebelo.

"O estudo da Universidade espanhola foi realizado com ratos de laboratório que, após a exposição à cannabis, manifestaram problemas "leves" de coordenação motora", segundo explicou Ozaita.

Estes danos são reversíveis porque a pesquisa demonstrou que quando é interrompido o consumo de cannabis e são utilizados fármacos inibidores da micróglia, os problemas de coordenação motora reduzem ou desaparecem completamente.

Segundo os cientistas, este mecanismo cerebral poderia funcionar igualmente com os humanos já que foi demonstrado que o consumo crônico elevado de cannabis gera, também, problemas de coordenação e uma diminuição do número de receptores de cannabis, de modo que o único que falta demonstrar é que a micróglia é activada também.


O trabalho de investigação foi elaborado pelos cientistas Laura Cutando, Arnau Busquets-Garcia, Emma Puighermanal, Maria Gomis-González, José María Delgado-García, Agnès Gruart, Rafael Maldonado e Andrés Ozaita.