sábado, 20 de abril de 2013

'Não me vejo como herói', diz PM do ES após morte de dois policiais civis




A policial civil e o policial militar que sobreviveram à ação que levou à morte de dois investigadores da policia civil, na zona rural de Sooretama, no Norte do Espírito Santo, nesta quinta-feira (18), descreveram como foi o momento e lamentaram o ocorrido. A equipe foi à uma fazenda para fazer um levantamento de informações sobre Ednei Brito Pereira, foragido do estado da Bahia por homicídio.
Durante a ação e após certificarem a identidade do rapaz, os policiais acreditaram que seria possível fazer a prisão no mesmo dia, mas não esperavam que o foragido estivesse armado. Ednei atirou e matou os policiais José Nivaldo Amaral, de 46 anos, e Leone José Pereira da Silva, de 52, que foram enterrados na tarde desta sexta-feira (19), em Linhares.

“Quando ele iria atirar em mim, o policial militar apareceu e deu um tiro na cabeça dele. O criminoso estava sentado na mureta da varanda e conversava com a gente. Nos recebeu bem e deu suas explicações”, desabafou a investigadora, de 48 anos, ao jornal A GAZETA e pediu para não ser identificada.

A situação mudou quando o policial civil Leone José Pereira da Silva levantou-se, deu voz de prisão para Ednei e preparava-se para algemá-lo. “Neste momento, ele sacou uma arma e atirou no Leone. O policial José Nivaldo Amaral reagiu, mas não conseguiu sacar sua arma. Por isso, entrou em luta corporal com o criminoso, que conseguiu atirar e matar Amaral”, relatou.
Quando Ednei se preparava para atirar contra a policial, o cabo Gilberto das Neves, de 49 anos, que estava junto com a equipe dando cobertura, caso houvesse uma tentativa de fuga, atirou e matou o criminoso. "Não me vejo como herói. Eu me vejo como um dos sobreviventes. Do mesmo jeito que aconteceu com os policiais Amaral e Leone, poderia ter acontecido comigo. Podem morrer dez bandidos, mas a morte de um policial é uma perda enorme. Ninguém saiu vitorioso nessa situação", contou o policial.

O policial  afirmou ter agido de forma rápida - cerca de um minuto e meio após - , ao ouvir os disparos. Ele contou que não havia percebido que, no momento em que atirou em Ednei, o bandido apontava uma arma para a cabeça de outra policial civil - que não está sendo identificada por questões de segurança. Ele só se deu conta da situação quando a arma do criminoso caiu no chão.
"Eu estava nos fundos da casa quando ouvi os tiros. No momento em que rodei a residência e vi o que estava acontecendo, eu nem cheguei a ver realmente que tinha outra policial. Só lembro que havia um infrator, e que eu precisava agir. Foi quando  fiz os disparos", explicou.
Falha na ação
Os policiais não usavam coletes à prova de balas durante a ação. Para o presidente da Sinpol-ES, Júnior Fialho, isso não representou uma falha de operação. "Eles foram ao local fazer apenas um levantamento e isso implica que eles não estivessem com esse equipamento, revelaria a profissão deles. Além disso, não pensavam que o rapaz pudesse estar armado. Na avaliação deles, acreditavam que daria para dar a voz de prisão naquela tarde mesmo, não achavam que o foragido fosse reagir. Caracterizamos isso como risco da profissão, até porque se eles estivessem de colete não adiantaria de nada, pois foram baleados na cabeça, onde não há proteção", disse.
O superintendente de polícia do interior, Danilo Bahiense, explicou que as investigações vão apontar se houve algum tipo de falha. "Na nossa profissão existem riscos constantes, desde trocas de tiros até acidentes em viagens. É inerente à nossa função. Nós vamos analisar e investigar as falhas que ocorreram. Quando os policiais vão cumprir mandados de prisão ou de busca, certamente estão usando coletes à prova de balas, mas nesse caso eles estavam apenas fazendo um levantamento", explicou.
O governador Renato Casagrande compareceu ao velório dos investigadores e prometeu melhorias na Segurança no Norte do estado. "Estamos contratando policiais, já temos 1,1 mil novos. Estamos com os nossos policiais civis e militares trabalhando como nunca, com diversas operações efetuadas", falou.


O caso
Quatro policiais foram até a fazenda onde morada Ednei, mas apenas três investigadores, sendo as duas vítimas e uma policial civil, foram conversar com o rapaz. O policial militar Gilberto das Neves, que tinha ido ao local apenas para visitar um amigo, acabou participando da ação para dar apoio à equipe, caso houvesse fuga. De acordo com Júnior Fialho, os investigadores se identificaram como funcionários do Ministério do Trabalho, que estavam fazendo um cadastramento. A intenção era confirmar a identidade do foragido, mas durante a conversa os policiais acreditaram que seria possível prendê-lo no mesmo dia.
"Eles chegaram ao local, inclusive, usando veículo descaracterizado. O rapaz os recebeu bem e até sentou na varanda da casa para conversar com eles. Não sabiam que o criminoso estava armado", disse Fialho.
O primeiro a ser atingido foi o policial Leone da Silva e, em seguida, o policial Amaral entrou em luta corporal com o atirador, mas acabou baleado também. No momento que Ednei se preparava para atirar na investigadora, o policial militar que dava apoio acertou o rapaz, que também acabou falecendo.
A companheira de Ednei, Patrícia de Souza, também estava na fazenda quando tudo aconteceu. "Eu não sabia que ele tinha arma. Na hora, eu levei um susto, saí correndo e caí. Estou grávida de três meses dele e não sabia de nada. Nesse tempo que estamos juntos, ele trabalhava na roça", contou.